Costumes e festa

Ontem foi um dia cheio de coisas novas. Começando pelo café da manha, em que eu comi uma coisa que se chama Poori Sagu. Alguém me explicou que é o chapatti (a panquequinha com gosto de papel) frito com legumes. Na verdade os legumes vem do lado, e os chapattis fritos viram umas bolotonas parecendo um pastel de vento, que murcham quando a gente morde.

Pela manhã, conversando com alguns colegas de trabalho, descobri que beber enquanto se come não eh um hábito aqui. Eu havia reparado mesmo que nenhuma refeição completa vem com bebida. Eles disseram que alguma religião é contra, mas que não existe esse costume mesmo.

Durante o almoço eu descobri que é proibido que os pais saibam o sexo do bebê antes dele nascer. Existe de fato uma lei pra isso, e todos os hospitais tem plaquinha falando que é proibido o médico falar se o bebê é menino ou menina. O que acontecia há algum tempo é o seguinte: quando as filhas casavam, elas iam morar na casa do marido, com os sogros e os pais da menina ainda pagavam uma quantia pros pais do menino. Então, por motivos econômicos era mais vantajoso ter filho homem, e assim que as mulheres ficavam sabendo que iam ter uma menina elas abortavam. Essa prática de pagar os pais do noivo é ilegal hoje, mas muitas pessoas que moram nas áreas rurais (e não tem muita instrução) ainda têm essa ideia de que ter filho homem é melhor. Por isso eles fizeram essa lei de não poder saber o sexo do bebê. Algumas vezes, hoje ainda, o casal fica tendo filho ate nascer um homem. As indianas explicaram pra gente que nos grandes centros urbanos, onde as pessoas são mais instruídas, não é assim não. O problema é que aqui existe muita, mas muita gente mesmo, nas áreas rurais.

À noite teve uma festa de final de ano da Infosys. Bom, não foi bem uma festa, porque não tinha comida nem bebida, mas eles convidaram um DJ pra tocar em uma das praças de alimentação aqui. Quando eu cheguei lá nem acreditei o tanto de gente que tava dançando. Todo mundo super animado! Tocou 90% de música eletrônica indiana e 10% de outras músicas eletrônicas que eu conhecia (como Black Eyed Peas). A Aarti (uma das indianas responsáveis pelos estrangeiros perdidos que vêm trabalhar aqui) disse que a maioria das festas não é assim. Ele tocam muito mais músicas internacionais do que indianas. Mesmo assim, todo mundo sabia todos os passinhos das músicas locais =) E não adianta as indianas falarem pra gente que elas não dançam iguais aos atores de bollywood, porque dançam sim!! Um monte de passinho ensaiado, com um braço na frente e outro atrás da cabeça, balançando o ombro e os quadris… Seria uma versão real das caricaturas que a gente vê nos filmes. O mais legal é que os homens tavam dançando com igual empolgação! Se bobear, eles dançaram mais que as mulheres… rebolando, com os braços atrás da cabeça, dando voltinha… Teve até um cara que trabalhava no stand de café que subiu na mesa e ficou fazendo passinho de Michael Jackson hehehe. Uma pena que eu estava sem minha camera…

Feliz 2011 =)

Comidas e cricket

Eu ainda estou longe de saber o nome de metade das comidas aqui. Isso pode ser um pouco frustrante, porque você chega na frente do caixa pra fazer seu pedido, vê uma lista de cinquenta pratos e só consegue reconhecer o nome de 2… E não adianta ficar perguntando do que é cada coisa. Primeiro porque é coisa demais e a fila é grande, e segundo porque é bem provável que a explicação do cara não ajude em nada. Então eu estou partindo pra opção pedir e descobrir o que é depois. Das coisas de nome esquisito que eu consigo reconhecer estão:

– Dosa: uma panqueca super grandona (+- 20 cm de diametro) que eh colocada na chapa so de um lado e e um pouco crocante.
– Massala: um recheio de batata, cebola e manjericao que eles colocam em algumas coisas (inclusive na dosa)
– Chowpati (nao sei se escreve assim): uma panquequinha com gosto de papel (hoje comi uma versão dela grandona que vem toda dobradinha, mas tem outro nome que eu não entendi)
– Moosambi: suco de limão
– Rasogola: um doce que parece uma bolinha de alguma coisa de queijo ou leite mergulhada numa calda melada

O resto eu tenho mais umas 10 semanas pra descobrir o que eh =)

Ah! Aqui tambem tem caldo de cana! Eu tomei ontem e tava gostoso, bem docinho. Mas me falaram que e melhor nao beber isso na rua que os locais podem ser um pouco nao higiencos =P Também teve iogurte no almoço, o que foi bom!! Faz uns dias que eu to procurando iogurte pra ter no quarto mas não achei pra vender ainda.

Hoje descobri que o esporte nacional aqui é o cricket. Estava conversando com meu colega de trabalho e ele tentou me explicar quase todas as regras. Depois de uns 15 minutos de conversa eu entendi que o cricket é uma versão complicada do bente-altas =D
Tem algumas regras malucas e partidas que duram dias!!!

Large deviations and random graphs

Talvez os leitores que não estejam interessados em assuntos técnicos devam pular os parágrafos 2 a 5 (este é o parágrafo 0). Ou talvez ir pro próximo post =D

Hoje teve uma palestra aqui do professor S.R.S. Varadhan. Eu não sabia quem era ele antes, mas dei uma olhada na sua biografia no Wikipedia e achei que podia ser interessante. Bom, assim que eu consegui uma cadeira no auditório super lotado, eles colocaram os slides da apresentação do cara e o título era “Random Graphs” o.O Já começou bem. A partir daí eu já fiquei interessada no assunto. E foi legal que ele deu uma palestra super técnica! Cheia de fórmulas matemáticas, e integrais e topologia, e grafos e cliques e tal. Eu me senti na universidade de novo =) Ele veio dar a palestra na Infosys porque é o chair do júri do prêmio de matemática (eu nem sabia que a Infosys dava esse prêmio…) Basicamente a palestra foi a apresentação de um artigo dele (que ele gentilmente me enviou – junto com os slides – depois que eu pedi no final da palestra, mas ele pode ser encontrado aqui).

Vou tentar falar o que eu entendi da palestra, apesar de eu ter saido de lá com um monte de perguntas. A primeira coisa importante que eu aprendi é o conceito de “large deviations” (com o cara que ajudou a desenvolver a teoria =). Imagina que você tem um espaço de possibilidades (por exemplo, possíveis locais que uma pessoa pode estar as 3 da manhã de terça-feira). A probabilidade é alta para determinado local X (sua casa, por exemplo), e é baixa para outro conjunto de locais C. A teoria de “large deviations” estuda a taxa com que essa probabilidade diminui em um espaço (topológico).

Agora vamos aos grafos. Um grafo randômico com n vértices é um grafo em que cada possivel aresta tem uma propabilidade p de ocorrer. Dados esses grafos, qual é o número de vezes que um determinado grafo (por exemplo, o K3) aparece como subgrafo? Pela teoria dos grandes números (ver parágrafo seguinte) esse número se aproxima de um valor se você usar n suficientemente grande (a saber: p^3 / 6). Então esse valor é seu local X de alta probabilidade. Mas o que acontece com essa probabilidade quando nos aproximamos de outros valores? Essa teoria de “large deviations” se aplica a esse caso dadas algumas restrições do espaço topológico. (Mais detalhes quando eu conseguir entender o que são espaços topológicos fracos e fortes… e o resto do artigo.)

Uma coisa bacana que eu aprendi na palestra é a lei dos grandes numeros (“law of large numbers”) que diz que se um experimento for repetido uma grande quantidade de vezes, o valor médio dos seus resultados estará perto do valor esperado. E quanto mais vezes o experimento for feito, menor é a diferenca entre a média e o valor esperado. Eu sei, é uma ideia super intuitiva, mas eu não sabia que existia uma lei pra isso =) (e é claro que tem uma prova, realizada por um dos Bernoulli’s e por Poisson).

No final da palestra algumas pessoas fizeram perguntas, e um cara teve a coragem de perguntar se o professor acredita ou nao que P = NP foi provado! haha A resposta dele foi que a maioria dos seus colegas acredita que não foi provado e que a igualdade nao procede =P Mas isso é tudo uma questao de crenças.

As outras duas perguntas foram as famosas perguntas previsíveis: “Tá, e o que a gente faz com isso agora?”. Bom, eu achei bonitinho e não precisa ter aplicação nenhuma… só de ter me deixado curiosa pra pesquisar mais um tanto de assunto já foi suficiente. Mas não e assim com essas pessoas de empresas. Eles queriam que o professor Varadhan virasse pra eles e falasse assim: “Ah, agora vc faz um algoritmo com isso e aplica na rede social que vc quiser e ele vai te falar quais são as pessoas que podem comprar mais seu produto.”. Não né. Essa pergunta me faz pensar sempre que existe uma grande distância ainda entre quem estuda teoria e quem aplica. Uma coisa é desenvolver uma teoria, outra muito diferente e ainda muito difícil é saber como aplicar isso corretamente em algum problema concreto. Eu sempre tenho a impressão de que existem muitas teorias que podiam ser aplicadas se as pessoas realmente parassem e pensassem no seu problema como um elemento abstrato e conhecessem a teoria de verdade. É muito dificil saber qual abstração usar, e qual teoria vai te ajudar, mas a gente tem que conhecer o que existe lá fora o máximo, pra saber usar direitinho.

Acho que ja escrevi demais….

Bangalore

Mudei o título pra não ficar muito repetitivo XD

Uma coisa bacana… as escadas rolantes no prédio que eu trabalho são inteligentes =D Elas ficam paradinhas até alguém subir nelas, aí elas começam a acelerar devagarinho até chegar na velocidade normal.

Hoje eu me aventurei pelas ruas de Bangalore. Três estagiários terminaram seus projetos e saíram pra comemorar e aí os novos estagiários (incluindo eu) foram também. A gente foi num lugar que se chama UB City. Aparentemente é um grande complexo de lojas/escritórios/restaurantes, e a casa suntuosa do dono que cuida daquilo (e da rua, que tem o nome dele) é do lado. Na verdade não dá pra ver a casa… só um caminho infinito de palmeiras iluminadas. O shopping provavelmente é o mais caro que eu já entrei. Dentre as lojas que eu lembro estão: Jimmie Choo, Louis Vitton, Diesel, Estee Lauder (nem sei se é assim que escreve) e Apple. A praça de alimentação fica num espaço aberto no terceiro andar, e só tem restaurante chique tb. Tem um restaurante japonês de dois andares com uma estátua gigante. É bem bonito o lugar, e super suntuoso.

O que as pessoas dizem sobre a Índia ser um país de contrastes procede até agora. Se andarmos uns 5 quarteirões depois desse shopping chegamos numa rua que tem uma aparência de pós-guerra. O meio termo parece não existir (pelo menos eu não vi ainda…).

Mais sobre a Índia

Então, mais alguns fatos curiosos:

– As pessoas realmente comem com a mão aqui… é meio esquisito. E depois eles lavam e tal, mas sem sabão. Nem tem talheres, só uma colher. Guardanapos então… nem sinal.
– Eles têm um hábito de virar a cabeça meio esquisito… não é um “sim” nem um “não”. No começo achei que fosse um sinal de impaciência, mas depois percebi que é assim mesmo que eles conversam uns com os outros.
– Os vasos sanitários são mais altos que o normal…
– A empresa é de TI mas não tem internet sem fio em lugar algum!
– Tive três refeições hoje. Nas três saí com os olhos lacrimejando de tanta pimenta o.O (inclusive o café da manhã)

No mais, a empresa é bem legal. Tem duas academias super bem equipadas e aulas de yoga e alongamento. Tem um monte de praça de alimentação com restaurantes diferentes, um mercadinho, loja de celular, banco e tudo mais. Tem quadra de basquete, campo de golfe e piscina =D

Sobre a Índia – primeiras impressões

Bom, estou no país a aproximadamente 2 horas e acho que já posso dizer que uma característica geral aqui é a falta de orgazinação (o que vai ser um problema enorme pra mim). Começando pela fila da imigração, que eles fizeram um esquema que pra mim não fez o menor sentido… Colocaram todo mundo (todo mundo mesmo, imigrante, indiano, idosos, mulheres com crianças de colo) numa fila gigante. E lá na frente tinha entre 5 e dez guichês funcionando. Ao invés de cada guichê chamar o primeiro da fila única, essa fila foi dividida em uma fila individual pra cada guichê. Na frente de todo mundo tinha uma mulherzinha que decidia pra qual fila de qual guichê vc ia baseando, aparentemente, no tamanho da fila ¬¬ Não era dividido por fila de família, de crianças, de indianos ou entrangeiros. Ela redistribuia as pessoas ao seu bel-prazer… Vai entender.

Bom, aí o cara me pegou de taxi e tal (tava com meu nome lá no papelzinho e tudo, olha que chic!) e gentilmente deixou eu levar minhas malas sozinha até o estacionamento do aeroporto. Minha malinha básica de 32 kgs que veio com uma etiqueta amarela da companhia aérea escrito “HEAVY”. Enfim, durante o passeio de taxi (que demorou +- 1 hr) deu pra entender como funciona o trânsito aqui. Algumas coisas cusiosas:

– Aqui é mão inglesa. O contrário da gente.
– A buzina é o que tem de mais importante no seu carro. Seta? Retrovisor? A maioria dos carros nem tem o retrovisor esquerdo. Mas a buzina é imprescindível. É utilizada pra avisar que tá passando, avisar que vai mudar de pista, avisar que tá indo e nao vai frear pro cara da frente, avisar pro outro cara que não vai deixar ele entrar na sua pista, enfim, pra quase tudo. E quem buzinar por mais tempo ganha a preferência (se não ganhar a gente invade a contra-mão). E por causa disso os motoristas ficam treinando a buzina mesmo quando não tem absolutamente ninguém perto do carro.
– O conceito de faixa simplesmente não existe. Três faixas viram cinco ou até seis. O que couber.
– Se apertar cabe mais gente. Os carros passam super colados uns nos outros, e ninguém pára, só no último segundo antes de bater.
– Vc pode virar em praticamente qualquer rua que quiser, de qualquer local que vc estiver. Se a rua der mão, é só atravessar a avenida de 5 pistas.

Pelo menos eu cheguei aqui na empresa e parece ser diferente. Tinham meu quarto reservado, já tenho crachá com foto e tudo mais. Igual gente grande.

Agora to morta… Vou ver se tomo um banho pra não dormir. São 5 da manhã no Brasil e eu passei uma noite dormindo no avião =/