Da série Paris: o campus

A universidade técnica de Viena era formada por vários prédios espalhados pelo centro. A École Polytechnique, onde estou trabalhando hoje, é exatamente o oposto. São vários prédios juntos em um campus imenso e cheio de árvores. É bem bonito na verdade, mas como já deu pra perceber, na França ser bonito tem seu preço. Não, não, as coisas não são tão fáceis assim…

Campus escondido atrás das árvores

O primeiro porém desse campus maravilhoso é que ele não fica em Paris per se. Fica em Palaiseau, a aproximadamente 20 kms de Paris. Mas ok, tem um trem que vai até lá e é relativamente frequente. A viagem de trem demora meia hora no máximo, mas o meu caminho, da porta de casa até o escritório é de uma hora e meia, marcado no relógio. Os primeiros 20 minutos são perdidos com a minha caminhada até o metrô e a viagem de metrô até a estação de trem. Aí eu pego o trem, mais meia hora, e aí? Bom… segundo porém, ir da estação de trem até o prédio onde trabalho é uma boa caminhada. Ou melhor dizendo, um bom hiking.

Já foi uma parte… … e temos um longo caminho pela frente

Subindo! Cruzamos com um mochileiro.

Primeira virada. Segunda virada.

E subimos mais! Eu vejo uma coisa…

Ahá!

Parece que chegou né…hmm pelo menos acabaram as escadas e eu posso recuperar o fôlego.

Um portão… bom sinal.

Olho pra um lado… … e pro outro…

Depois do hiking, a caminhada.

O caminho é longo… Ando mais…

E mais… Mais um pouco…

Pelo menos o ar é puro… Ah lá está!

Cheguei, ufa!

Pelo menos eu troquei a bicicleta por outro esporte e não por uma vida sedentária. Mas o esforço valeu a pena:

Opa, não… o outro lado!

🙂

Da série Paris: a máquina de lavar

As malas vazias, as flores na janela e eu deitada embaixo das cobertas num sábado ensolarado indicam que eu oficialmente me mudei pra Paris. Estou vivendo o sonho, na cidade luz com a torre Eiffel, bons vinhos, croissants e pain au chocolat… certo? Esqueceram de contar que o sonho involve um apartamento de 20 metros quadrados num prédio velho, último andar com um elevador de 2 metros quadrados, um chuveiro que não me cabe, metrôs cheios, pessoas (muitas pessoas!) andando num passo apressado e prontas pra te atropelar se você hesitar, pessoas pulando a catraca na estação atrás de você, e um ar de impaciência com qualquer um que não saiba as regras ainda. A impaciência talvez seja efeito de ter que lidar com turistas perdidos a cada 3 pessoas que pedem informação… Eu notei que a o semblante do funcionário do guichê de informações no metrô ficou um pouco mais leve quando eu perguntei como faz pra comprar o cartão anual, e não qual é o caminho até o Arco do Triunfo.

Flores na janela

Para tentar me sentir mais em casa, resolvi arrumar o apartamento. Tirei o tapete, enchi as prateleiras com o pouco que trouxe, coloquei os cremes e escova de dente no banheiro e roupas no armário. Aos poucos fui descobrindo o que já tinha aqui deixados por antigos moradores. Achei caixinhas de som e fiz um “entertainement center” que está sendo muito bem utilizado. Na sala/quarto não tinha muito mais coisa. Uma vela aromática que está acesa agora e um DVD player obsoleto, já que não tem uma TV. Um som com tocador de CD também faz parte do conjunto, mas como ele não tem entrada auxiliar pra conectar o tablet e eu não tenho CDs, provavelmente vai fazer par com o DVD player.

Entertainement center

A cozinha já era mais bem provida de coisas. Até demais pra falar a verdade. Dentre os itens encontrados estavam: 3 varais para pendurar roupas, 2 ferros de passar, um tapete de yoga, uma tampa velha de vaso sanitário, alguns azulejos, duas tábuas pequenas de madeira (??), um aspirador de pó, 3 frascos de limpa vidros, 3 frascos de desengordurantes, 2 sprays anti-mosquito, 2 frascos de cera pra madeira, 2 pacotes de luvas pra limpeza, 2 sprays pra tirar manchas de tecido, um amaciante de roupa, 2 rolos de papel alumínio, 2 rolos de filme plástico, 3 caixas de saquinhos plásticos, algumas buchas, palha de aço, óleo de lubrificação e panos de limpeza. Quão redundante uma pessoa pode ser? Eu não consigo nem pensar em uma explicação pra essa quantidade de itens repetidos, além da óbvia falta de organização que faz uma pessoa esquecer que tem alguma coisa e comprar de novo. Mas o apartamento é consideravelmente pequeno, e não conseguir encontrar um varal e um ferro de passar é o cúmulo da falta de atenção.
Pelo menos com essa quantidade de produtos de limpeza, você pensaria que o apartamento estaria brilhando, certo? Errado. Talvez os produtos faziam parte de uma coleção. Ou talvez a pessoa gostava de comprar vários pra testar em pequenos locais só pra saber qual funciona melhor, mas não pra limpar de verdade.

Produtos de limpeza: de todas as cores e sabores

Naturalmente eu comecei a limpar e organizar tudo. Comecei lavando os próprios frascos de produtos de limpeza que estavam empoeirados. Encontrei umas caixas plásicas, limpei elas e guardei tudo. Caixas com coisas que eu não vou usar são colocadas em locais de difícil acesso, coisas que eu vou usar vão pro armário (que também foi limpado), lixo vai pro lixo. Tudo no seu devido local. Até aspirador de pó e pano de chão eu passei. A torneira do chuveiro que estava fosca ficou cromada novamente, e a ducha tinha umas manchas marrons e agora está na sua cor original (e eu me certifiquei disso antes de tomar um banho!). Antes de continuar eu precisava lavar os panos de limpeza. Abri a máquina de lavar e descobri que eu não estava morando sozinha mais, uma colônia de fungos já habitava o apartamento muito antes de eu chegar.

… para todos os lados!
Fungos…

Qual foi o meu horror com essa visão… eu não consigo descrever. A idéia que uma pessoa poderia ter tal falta de higiene pra deixar as coisas chegarem nesse ponto me dá calafrios. Nesse momento eu comecei a pensar se eu tinha passado por alguma lavanderia por perto onde eu poderia levar minhas roupas pra lavar. Passado o momento de choque, eu decidi dar uma chance pra pobre máquina de lavar que foi tão largada pelo seu antigo mestre. Decidi que eu ia lutar contra os fungos e recuperar essa máquina. Comprei a briga. O primeiro passo foi usar bucha, detergente e água morna. Resolveu alguma coisa, mas os fungos estavam decididos a manter seu território.

… sem uma luta!
Não nos renderemos…

Já que era pro próprio interesse da máquina, pensei que ela poderia me dar uma mãozinha. Joguei um produto anti-bactérias no compartimento de colocar sabão e uma pastilha para limpar máquinas de lavar no tambor e coloquei ela pra trabalhar na maior temperatura possível. Ela fez sua parte.

Vencemos a frente da batalha… … mas ainda há resistência!

Era hora de usar a artilharia pesada. Fui no supermercado, comprei água sanitária (nessas horas a gente aprende coisas estranhas tipo como se diz água sanitária em francês: eau de javel), coloquei as luvas e esfreguei mais um pouco a borracha da porta. Eles começaram a se render.

Água sanitária… nãooo!!

Já estava em um estado razoável, comparado com o que era no início, e achei que colocar a máquina para funcionar sem nada de novo seria um desperdício. Coloquei de novo um ciclo na temperatura máxima mas agora com os panos de limpeza pra lavar. Coloquei também bastante água sanitária e novamente o anti-bactérias. Resultado:

Senhor…
… eu desisto, senhor!

Panos de limpeza limpos e uma máquina (quase) limpa. Mais alguns choques de água sanitária e vitória!